domingo, 27 de outubro de 2013

Há metafísica bastante em não pensar em nada!!!!

Há Metafísica Bastante Em Não Pensar Em Nada
Há metafísica bastante em não pensar em nada. 

O que penso eu do mundo? 
Sei lá o que penso do mundo! 
Se eu adoecesse pensaria nisso. 

Que ideia tenho eu das cousas? 
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? 
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma 
E sobre a criação do Mundo? 
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos 
E não pensar. É correr as cortinas 
Da minha janela (mas ela não tem cortinas). 

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério! 
O único mistério é haver quem pense no mistério. 
Quem está ao sol e fecha os olhos, 
Começa a não saber o que é o sol 
E a pensar muitas cousas cheias de calor. 
Mas abre os olhos e vê o sol, 
E já não pode pensar em nada, 
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos 
De todos os filósofos e de todos os poetas. 
A luz do sol não sabe o que faz 
E por isso não erra e é comum e boa. 

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores? 
A de serem verdes e copadas e de terem ramos 
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar, 
A nós, que não sabemos dar por elas. 
Mas que melhor metafísica que a delas, 
Que é a de não saber para que vivem 
Nem saber que o não sabem? 

«Constituição íntima das cousas»... 
«Sentido íntimo do Universo»... 
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada. 
É incrível que se possa pensar em cousas dessas. 
É como pensar em razões e fins 
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores 
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão. 

Pensar no sentido íntimo das cousas 
É acrescentado, como pensar na saúde 
Ou levar um copo à água das fontes. 
O único sentido íntimo das cousas 
É elas não terem sentido íntimo nenhum. 

Não acredito em Deus porque nunca o vi. 
Se ele quisesse que eu acreditasse nele, 
Sem dúvida que viria falar comigo 
E entraria pela minha porta dentro 
Dizendo-me, Aqui estou! 

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos 
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas, 
Não compreende quem fala delas 
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.) 

Mas se Deus é as flores e as árvores 
E os montes e sol e o luar, 
Então acredito nele, 
Então acredito nele a toda a hora, 
E a minha vida é toda uma oração e uma missa, 
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos. 

Mas se Deus é as árvores e as flores 
E os montes e o luar e o sol, 
Para que lhe chamo eu Deus? 
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar; 
Porque, se ele se fez, para eu o ver, 
Sol e luar e flores e árvores e montes, 
Se ele me aparece como sendo árvores e montes 
E luar e sol e flores, 
É que ele quer que eu o conheça 
Como árvores e montes e flores e luar e sol. 

E por isso eu obedeço-lhe, 
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?), 
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente, 
Como quem abre os olhos e vê, 
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes, 
E amo-o sem pensar nele, 
E penso-o vendo e ouvindo, 
E ando com ele a toda a hora.
Hay bastante metafísica(*) en no pensar en nada. 

¿Qué pienso yo del mundo? 
¡Allá sea lo que pienso del mundo! 
Si yo adolesciese pensaría en eso. 

¿Qué idea tengo de las cosas? 
¿Qué opinión tengo sobre las causas y los efectos? 
¿Qué tengo meditado sobre Dios y el alma 
Y sobre la creación del Mundo? 
No sé. Para mí pensar en eso es cerrar los ojos 
Y no pensar. Es correr las cortinas 
De mi ventana (pero ella no tiene cortinas). 

¿El misterio de las cosas? ¡Allá sea lo que es misterio! 
El único misterio es que haya quien piense en el misterio. 
Quien está al sol y cierra los ojos, 
Comienza a no saber lo que es el sol 
Y a pensar muchas cosas llenas de calor. 
Pero abre los ojos y ve al sol, 
Y ya no puede pensar en nada, 
Porque la luz del sol vale más que los pensamientos 
De todos los filósofos y de todos los poetas. 
La luz del sol no sabe lo que hace 
Y por eso no yerra y es común y buena. 

¿Metafísica? ¿Qué metafísica tienen aquellos árboles? 
La de ser verdes y copudos y de tener ramas 
Y la de dar fruto en su momento, lo que no nos hace pensar, 
A nosotros, que no sabemos dar por ellas. 
¿Pero qué mejor metafísica que la de ellas, 
Que es la de no saber para qué viven 
Ni saber que no lo saben? 

«Constitución íntima de las cosas»... 
«Sentido íntimo del Universo»... 
Todo esto es falso, todo esto no quiere decir nada. 
Es increible lo que se pueda pensar de cosas de esas. 
Es como pensar en razones y fines 
Cuando el comienzo de la mañana está rayando, y por los lados de los árboles 
Un vago oro lustroso va perdiendo la oscuridad. 

Pensar en el sentido íntimo de las cosas 
Es acrescentado, como pensar en la salud 
O llevar un vaso de agua de las fuentes. 
El único sentido íntimo de las cosas 
Es que ellas no tengan sentido íntimo alguno. 

No creo en Dios porque nunca lo vi. 
Si él quisiera que yo creyera en él, 
Sin duda que vendría a hablar conmigo 
Y entraría por mi puerta adentro 
Diciéndome, ¡Aquí estoy! 

(Esto es tal vez ridículo a los oidos 
De quien, por no saber lo que es el mirar a las cosas, 
No comprende a quien habla de ellas 
Con el modo de hablar que reparar hacia ellas enseña.) 

Mas si Dios es las flores y los árboles 
Y los montes y sol y la luz de la luna, 
Entonces creo en él, 
Entonces creo en él a toda hora, 
Y mi vida es toda una oración y una misa, 
Y una comunión con los ojos y por los oidos. 

Mas si Dios es los árboles y las flores 
Y los montes y la luz de luna y el sol, 
¿Para qué le llamo yo Dios? 
Le llamo flores y árboles y montes y sol y luz de luna; 
Porque si él se hizo, para que yo lo vea, 
Sol y luz de luna y flores y árboles y montes, 
Si él se me aparece como siendo árboles y montes 
Y luz de luna y sol y flores, 
Y él quiere que yo lo conozca 
Como árboles y montes y flores y luz de luna y sol. 

Y por eso yo le obedezco, 
(¿Qué más sé yo de Dios que Dios de sí mismo?), 
Le obedezco viviendo, espontaneamente, 
Como quien abre los ojos y ve, 
Y le llamo luz de luna y sol y flores y árboles y montes, 
Y lo amo sin pensar en él, 
Y piénsolo viendo y oyendo, 
Y ando con él a toda hora.
O Guardador De Rebanhos
Alberto Caeiro 
08-03-1914
Lindoooooooooooooooo.
Bjimmmmmmmm

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